Devemos começar por definir o que é o consumo e em que consiste a sustentabilidade para podermos chegar à aceção de consumo sustentável.
De acordo com Jean Baudrillard, consagrado sociólogo francês do século passado, “não existem limites para as necessidades do homem enquanto ser social […]. É precisamente aí que residem o valor estratégico e a astúcia da publicidade”. Porque “o lugar do consumo é a vida quotidiana”.
Quanto à sustentabilidade, assenta em três pilares: proteção ambiental, justiça social e viabilidade económica. Juntos, estruturam as soluções com vista a um mundo melhor.
Longe vão os tempos do “consumidor passivo” e sem obrigações de sustentabilidade. A consciência sobre a forma como consumimos cresce à medida em que mais pessoas percebem o impacto de cada bem produzido, desde a exploração dos recursos naturais até o fim da sua vida útil e descarte.
As nossas atitudes influenciam o meio ambiente, sendo capazes de destruí-lo e comprometer a vida das próximas gerações na Terra. Portanto, cabe-nos fazer escolhas que tenham efeitos positivos ou, pelo menos, que reduzam os efeitos negativos sobre a natureza.
Por definição, o consumo sustentável engloba práticas de consumo consciente, consumo verde e consumo responsável, sendo aplicável a toda a cadeia de produção.
Essas práticas começam por escolher produtos que utilizaram menos recursos naturais na sua produção, que garantam emprego decente aos que os produziram, que são facilmente reaproveitados ou reciclados e, por fim, que são realmente necessários.
Mas também é evidente a necessidade de conciliar as áreas social, ambiental e económica para promover um desenvolvimento sustentável.
Ou seja, embora o consumo seja um dos principais motores para a economia das nações, é vital levar em conta os seus impactos sobre a natureza, adequando-o para prevenir a deterioração do planeta.
“Os consumidores têm o poder supremo de escolher o que compram e assim conduzir as marcas e os mercados para um futuro mais sustentável”, palavras de Ivo Mechels, CEO da Euroconsumers.
Por seu lado, as empresas precisam de estar atentas a todas as fases de produção optando por processos menos prejudiciais, que eliminem o desperdício e aumentem a eficiência, além de investirem em fontes de energia sustentáveis, assim como na reposição dos recursos que utilizam, por meio de ações como o reflorestamento e a rotação de culturas para não exaurir os solos.
O design dos produtos é outro agente que contribui para a sua durabilidade e impacto ambiental, portanto, é essencial pugnar por artigos de qualidade, que possam ser refeitos, reutilizados e reciclados.
Empresas, grandes marcas e cadeias de retalho são indispensáveis neste processo e, em última análise, o Estado também tem de “dizer presente”.
Há sempre um mas e, neste caso, é o grande desconhecimento dos cidadãos em relação ao que as marcas e os setores de atividade estão a desenvolver e a implementar ao nível da sustentabilidade.
Num contributo para a literacia do consumo sustentável, a consultora OnStrategy apresentou os resultados do primeiro estudo de perceção associada à sustentabilidade das marcas e dos setores de atividade por parte dos cidadãos portugueses referentes ao primeiro semestre de 2022.
Numa escala de 100 pontos, e entre mais de 50 setores de atividade, este estudo não regista nenhuma marca nem nenhum setor de atividade no nível de excelência (mais de 80 pontos). Apenas nove marcas se destacam com uma percepção de robustez (entre 70 e 80 pontos).
Quanto aos setores de atividade, nenhum atinge sequer o nível de robustez; todas as avaliações estão abaixo dos 70 pontos. Os setores que registam, ainda assim, melhor perceção associada a este indicador são: saúde, farmácia e bem-estar (69,5 pontos), educação (68,6), alimentação e bebidas (66,4), mobilidade (63,3) e turismo e lazer (62,7). Já os setores que registam uma avaliação mais vulnerável são: luxo e moda (53,0 pontos), banca, seguros e crédito (56,5) e, por último, detergentes e higiene pessoal (57,9).
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