IA no mercado de trabalho – Positivo ou Negativo?

IA no mercado de trabalho – Positivo ou Negativo?

Nas palavras do secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo, “se há algo certo sobre a inteligência artificial [IA] é que temos mais dúvidas do que certezas sobre ela. O que é? Como podemos utilizá-la no dia-a-dia? De que forma é que a IA nos pode afetar no futuro? Ficará com os nossos postos de trabalho?”

 

A transformação natural

 

A questão sobre se a IA vai roubar postos de trabalho é um tema bastante debatido atualmente. O mercado laboral sofre alterações sempre que os sistemas de inteligência artificial vão executando tarefas que antes eram executadas por humanos, de uma maneira eficiente e eficaz. Mas esta situação não é nova. Basta recuarmos à época em que os livros eram escritos à mão e havia escrivães especializados na prática. Ou ao tempo em que eram necessários operadores telefónicos para estabelecer uma ligação para que se pudesse fazer uma chamada telefónica. Estes empregos e muitos outros foram praticamente extintos, mas outros foram sendo criados. Houve uma transformação. Uma transformação para um domínio mais de conhecimento, onde a educação, por exemplo, ganhou bastante importância. São também postos de trabalho mais exigentes do ponto de vista mental.

E se há coisa que a transformação dos postos de trabalho ao longo dos anos mostrou foi a capacidade de o ser humano se reinventar e construir sobre as soluções tecnológicas que ameaçavam atirar a humanidade para o desemprego.

 

O que vai acontecer?

 

Um relatório do Goldman Sachs, deste ano, antecipa uma automatização de um quarto do trabalho feito nos Estados Unidos e na União Europeia. Na prática, são cerca de 300 milhões de postos de trabalho a tempo inteiro. Mas o mesmo documento estima que o impacto dessa automatização na produtividade acabe por resultar, em dez anos, num aumento de 7% do PIB. Contas feitas, ganhamos ou perdemos, no final?

 

Um relatório de 2017 do Fórum Económico Mundial anunciava já que “o ritmo de mudança no mercado laboral está a aumentar através da destruição e da criação de postos de trabalho no tecido industrial, levando a uma diminuição de trabalhadores de baixas qualificações e ao aparecimento de novas ocupações e competências”. Os estudos existentes dividem-se entre aqueles que preveem oportunidades em categorias profissionais emergentes que aumentem a produtividade dos trabalhadores e os libertem do trabalho rotineiro, e aqueles que, pelo contrário, estimam uma substituição massiva dos trabalhadores e o desaparecimento de emprego. Desta forma, o desenvolvimento da automação pode ter um impacto positivo ou negativo no emprego e nos salários, dependendo não só do setor de atividade, mas também do perfil dos próprios trabalhadores. Assim, estas alterações terão impacto em diferentes tipologias de ocupação, podendo gerar e fazer crescer diferentes ocupações.

 

Paradigma realista

 

Em junho de 2022, a revista Cosmopolitan lançava aquela que diziam ser a primeira capa de revista artificialmente inteligente. Na capa podia também ler-se que foi gerada em 20 segundos. Mas na verdade, desde que foi feito o debate inicial, a conceção da ideia de que a capa deveria representar uma astronauta, a iteração de instruções e até se obter uma figura que fosse visualmente apelativa decorreram horas. O sistema usado, o DALL-E, foi uma mera ferramenta no processo que substituiu o uso do lápis por instruções textuais, acelerando assim o processo de desenho. No entanto, houve muito trabalho humano nos bastidores para garantir que aquela capa fazia sentido e era visualmente apelativa, num processo também ele criativo.

 

Segundo Afonso Oliveira, do Analytics Lab da Siemens, “a partir do momento em que um novo sistema destes fica disponível, está na nossa natureza procurar extrair o máximo possível dele. É claro que certas aplicações de IA poderão reduzir alguns postos de trabalho específicos, como, neste caso, poderia substituir alguém capaz de desenhar. Mas será difícil não usarmos as aplicações que vão aparecendo e construir por cima delas. Foi o que sempre fizemos quando apareceram novas tecnologias. Afinal, o ser humano consegue ser bastante criativo”.

 

 

O desafio do progresso

 

Gerir o possível desemprego tecnológico e a desigualdade que a IA poderá provocar, tentando aproveitar as vantagens que a tecnologia oferece, será, sem dúvida, o desafio do futuro.

 

À medida que a tecnologia avança, surgem novas profissões relacionadas com a IA, como cientistas de dados, engenheiros de machine learning e especialistas em ética da inteligência artificial. Além disso, a IA pode melhorar a eficiência e a produtividade em muitas áreas, o que pode levar a um aumento na procura por trabalhadores qualificados.

 

É igualmente importante adotar uma abordagem equilibrada, investindo em requalificação e educação, além de implementar políticas adequadas para garantir que a IA seja usada de forma ética e responsável.

 

Tal como aconteceu com o aparecimento da eletricidade, da internet e agora da IA, muitos postos de trabalho irão efetivamente tornar-se obsoletos, mas muitos outros de muito maior valor acrescentado irão ser criados e substituí-los. No limite, isto são as dores do progresso e da evolução e sempre aconteceu ao longo da história.