O ADN do Profissional do Futuro
Quais as habilidades, características e diferenciais dos executivos de sucesso no Século XXI?
É um tema recorrente questionarmos o futuro das empresas onde atuamos: Qual a sua relevância, existência, perenidade, etc.
Olhamos as maiores empresas há 3 ou 4 décadas atrás e comparamos com os dias de hoje e constatamos que quem hoje domina os mercados talvez nem sequer existisse há 1 ou 2 décadas. Uber, Netflix, Spotify, Whats App, Instagram, Facebook ou Airbnb (e Google, Apple, etc.) para citar alguns, são apenas exemplos visíveis e mediáticos das transformações que o mundo empresarial enfrenta regularmente e que tem dado força à designada 4ª Revolução Industrial.
A PWC fez, em 2014, um interessante estudo sobre o perfil dominante das empresas no futuro (encontra o Report completo aqui http://www.pwc.com/gx/en/issues/talent/future-of-work/journey-to-2022.html) tendo publicado uma atualização no final de 2018; a BCG publicou vários papers sobre como devemos analisar o futuro empresarial; a McKinsey tem dedicado bastante atenção às competências e perfis do futuro do trabalho; o World Economic Fórum é referência nestas pesquisas; várias empresas de consultoria têm dedicado tempo a olhar para este tema. Mas vejamos a evolução da humanidade para posicionar o futuro que se apresenta. Podemos resumir a evolução do mundo, da sociedade e dos negócios em três grandes momentos, através da lente era vs. fonte de poder. Assim:
Vivemos a maior transformação da história da humanidade suportada em duas grandes revoluções:
1ª grande era - Era Agrícola (até séc.XIX)
Este era o momento onde quem detinha a terra detinha o poder, pois permitia definir o quê e quando seria produzido. Esta era dividiu a sociedade entre os Aristocratas e os Plebeus.
Estes eram tempos em que pouca educação/formação era necessária (eventualmente inexistente) pois apenas se repetia a produção agrícola já inventada alguns séculos antes e com a ausência de concorrência (no conceito que o conhecemos hoje) não existia a pressão do negócio como o vivemos atualmente.
2ª grande era - Era Industrial (séc. XX e início do séc. XXI)
Com a transformação das terras em capital, pela sua venda, associado ao crescimento populacional, tornou-se necessária a adoção de novas formas de produção. Chegava assim a era industrial (ou revolução industrial) onde os detentores do capital determinavam o rumo da produção. Esta era dividiu a sociedade entre os Capitalistas e o Proletariado, tendo dado origem às classes sociais como as conhecemos hoje.
Conhecemos nesta era a criação de um modelo de educação que focava a sua atuação na capacitação de competências técnicas e de repetição e, portanto, quando mais “igual” melhor.
3ª grande era - Era da Informação (séc. XXI, pós 2007)
Após a chegada do mundo conectado (primeiro, via smartphones e agora via internet de tudo – IoE, Internet of Everything) a era mudou para uma nova realidade onde a fonte de poder é a informação e mais do que mera informação a sua capacidade em transformá-la em conhecimento, acrescento eu, aplicável.
Vivemos a era da 4ª revolução industrial onde não é mais a terra ou o capital que determinam a realidade e o curso da história. Hoje o poder está no conhecimento e na velocidade de acesso e atualização do mesmo. E esta era está dividindo a sociedade nas espécies. Assistiremos no futuro a diversas espécies classificadas pela sua capacidade de acessar e utilizar a informação. Harari fala na era singular, ou algorítmica onde cada um será naturalmente diferente do outro. Nesta nova realidade entram em cena novas e diferentes habilidades que até agora estariam em segundo, e talvez até em nenhum, plano na agenda educacional.
Lynda Gratton, autora de A Mudança: o Futuro do Trabalho Já Chegou, sistematizou em 5 grandes drivers (mudanças) aquilo que as empresas precisam considerar em seus futuros se quiserem sobreviver.
A Força Tecnológica vem em primeiro e parece ter sido a lógica mais acertada, uma vez que esta é encarada como um dos principais alicerces do Mundo atual, bem como do mundo que virá. Ainda que nem todas as pessoas tenham acesso à tecnologia, o número de pessoas ligadas virtualmente tem crescido significativamente desde há poucos anos. Estima-se que, em 2025, 5 bi de pessoas (para um total de 8 bi de pessoas no planeta) estejam ligadas, uma vez que se está a criar uma consciencialização e familiarização globais com a Internet. Muito em breve, todos nós estaremos interligados e comunicaremos via Internet, partilhando todo o tipo de informações, com grande relevo no que respeita às empresas, que trabalharão quase a 100 por cento via mundo virtual. Locais como salas de reuniões ou empresas físicas poderão mesmo deixar de existir.
A segunda força é a da Globalização. Esta força é a mais poderosa e a mais abrangente de todas, pois de certo modo, compreende todas as outras. É devido à globalização que tudo o resto acontece: que a tecnologia evolui, se expande e chega a mais pessoas; que os parâmetros e as necessidades da sociedade se alteram e, o mundo avança. E a chamada Globalização Digital está em forte ascensão uma vez que permite maior colaboração e compartilhamento de tudo.
A terceira força é a da Demografia e Longevidade. Esta força “está relacionada com quem está tendo bebés e com o tempo que esses bebés vão viver. Está relacionada com o número de pessoas que trabalham e durante quanto tempo. Está relacionada com as cinco gerações e como vão amar-se e possivelmente, odiar-se umas às outras. Começámos o Séc. XX com 2 bi de pessoas e em 2011 chegámos a 7 bi. Prevê-se um crescimento exponencial da população mundial e um aumento da expectativa de vida que se aproxima dos 100 anos. Mais gente, durando mais tempo.
A quarta força é a Força da Sociedade e como é que a sua estrutura pode ser fortemente alterada. Embora a nossa essência e os nossos valores enquanto seres humanos se mantenham inalterados, os meios que usamos para atingirmos determinados fins modificaram-se. Os indígenas das tribos continuam a pescar como antigamente, mas atualmente usam um telemóvel para comunicar com as mulheres que ficam nas habitações.
Como este, existem muitos outros exemplos que ilustram esta continuidade de padrões e valores, aos quais se adicionou um pouco de tecnologia. A multidão (crowd) está-se a organizar colaborando em todas as áreas na procura de melhores soluções para os problemas do mundo, exigindo mais das marcas, das empresas e instituições públicas. É normal pedir ajuda ao grupo de onde comprar algo ou que marca comprar ou não comprar. Avaliar o outro é comum já e empresas estão a perder e a ganhar negócios por via da atividade colaborativa da multidão.
A última das forças é a dos Recursos Energéticos. A luta dos governos a fim de proteger e até monopolizar as energias vai, por um lado, provocar escassez de recursos e, por outro, reforçar a premissa e a consciência da preservação e bom uso das energias, que deverá resultar numa divisão justa dos recursos por toda a população mundial. A questão da ecosustentabilidade foca-se cada vez mais na perenidade saudável do negócio além da mera preocupação com o planeta e ambiente o que faz todo o sentido uma vez que sem planeta não teremos negócios perenes.
Para complementar esta realidade o crescimento das gerações e a mudança comportamental dos milénios têm alterado significativamente a lógica do trabalho. Desmaterialização, trabalho por projetos, squads multitarefa, home office, virtualização e mobile são palavras comuns nos modernos ambientes de trabalho onde as regras da 2ª Revolução Industrial (da cadeia de valor sequencial onde cada um atua no seu quadrado para ajudar a construir um todo) estão sendo revistas adotando-se novas formas de atuar inspiradas no mundo conectado da 4ª Revolução Industrial.
Quais são as grandes mudanças?
- Os negócios são cada vez mais flexíveis, ágeis na mudança e principalmente inspirados e orientados pelas necessidades dos clientes;
- A tecnologia é o grande propulsor da mudança, tirando empregos puramente operacionais e abrindo espaço para a criatividade e produção intelectual;
- Mais do que puro resultado financeiro as empresas precisam garantir uma perenidade saudável pela sua relevante intervenção no ecossistema;
- Novas profissões estão surgindo diariamente desafiando as regras vigentes;
- Novos líderes emergem, pessoas comuns, ditas normais que se afirmam pela sua capacidade de antever, criar e principalmente executar;
- O desafio da execução supera o da criação.
E o que as empresas podem/devem fazer com elas (insights extraídos da pesquisa Carreiras em Transformação, publicado em 2017 pela Inova e Page Personnel):
- Atualizar/ajustar os conteúdos de treinamento, quer nas Universidades, quer nas empresas, para uma maior adequação às necessidades efetivas das funções do futuro, conseguindo com isso profissionais com melhores performances e empresas com melhores resultados pode significar a diferença entre sucesso e insucesso;
- A estruturação e gestão de equipes por líderes com forte orientação ao trabalho prático (mão na massa) e com experiências alargadas de conhecimento, considerando principalmente experiências internacionais devem ser prioridade na forma de atuar nos mercados;
- O baixo reconhecimento de ídolos/ícones inspiradores pela geração mais nova abre espaço para um modelo mais flexível de trabalho e de evolução, onde cada um pode criar e compartilhar novas formas de atuação nas empresas, em vez de apenas de tentar replicar modelos de quem já alcançou o sucesso. Isto permite que as empresas possam desenvolver políticas mais eficazes de engagement e gestão de projetos através da maior autonomia das suas equipas;
- Os ambientes colaborativos com foco em experiências e relacionamento motivam o crescimento profissional e individual de cada um e fortalecem o vínculo com a empresa, pelo que devem ser considerados, na estratégia de gestão de talento, momentos de interação e partilha de experiências e opiniões entre todos;
- A visão a longo prazo das empresas, principalmente considerando o papel de cada um nessa visão com clara definição sobre o desenvolvimento da carreira, constitui um fator decisivo de retenção pelo que, deve ser considerado na estratégia empresarial com a mesma importância que a gestão de clientes ou o cumprimento das metas de resultado operacional, por exemplo;
- O equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal ganha cada vez mais importância, até mesmo sobre salário, principalmente nas gerações mais jovens, considerando para tal que qualidade de vida é tão importante quanto o desempenho da profissão;
- Em um mundo cada vez mais conectado e influenciado pela evolução tecnológica, o maior desafio das empresas e dos seus gestores prende-se com a capacidade de criar e manter engagement e compromisso entre os seus colaboradores, seja pela maior transparência na gestão, seja pela forma como a empresa se abre ao novo e explora, seja pela via da inovação, seja pela via da interação social e ambiental, novas experiências, áreas de atuação ou negócios potenciais.
Para entender como o profissional do futuro deve preparar a sua jornada olhemos o que o Fórum Económico Mundial (WEF, World Economic Forum) publicou em 2015 como sendo a lista das 10 principais habilidades para os profissionais do futuro em 2020. Eram elas:
Em 2018, o WEF atualizou o outlook de habilidades atualizadas que assumiram a seguinte lista:
Habilidades Crescentes
- Pensamento analítico e inovador
- Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem
- Criatividade, originalidade e iniciativa
- Design e programação de tecnologia
- Pensamento crítico e analítico
- Resolução de problemas complexos
- Liderança e influência social
- Inteligência emocional
- Raciocínio, resolução de problemas e ideação
- Análise e avaliação de sistemas
E em Outubro de 2020 nova atualização conforme o quadro abaixo:
Fica notória a análise de que precisamos construir uma nova abordagem educativa e de desenvolvimento, focada mais na capacidade de pensamento e menos na execução, deixando as máquinas executar aquilo que outrora era função dos seres humanos.
Nesta equação humano vs. digital o pêndulo mudará a favor daqueles que conseguirem o equilíbrio entre pensamento e execução, produzindo conhecimento aplicável, extraído da informação disponível.
Termino com uma visão dos eixos estratégicos para o futuro da gestão:
Pessoas
- Líderes presentes que orientam e acompanham de perto o desenvolvimento e a performance de seus liderados;
- Colaboradores com elevada capacidade de adaptação ao novo e que se reinventam rapidamente;
- Pessoas comprometidas pelo propósito e com paixão pelo que fazem;
- Equipas ágeis e modulares que se ajustam em função do caminho estratégico definido;
- O grupo está acima do individuo.
Tecnologias
- Soluções tecnológicas alinhadas às necessidades dos negócios, mercados e clientes;
- IoE | Internet of Everything – tudo conectado o tempo inteiro: pessoas – máquinas; máquinas – máquinas; pessoas – pessoas;
- EaaS | Everything as a Service – elevada disponibilidade de soluções por assinatura;
- Conectividade, mobilidade e digitalização para facilitar acesso e partilha;
- Dinamismo tecnológico alinhado com a velocidade da 4ª revolução industrial.
Informação (data)
- Gestão da informação e do conhecimento (data) como o maior ativo (asset) dos negócios;
- Atualização constante dos níveis de informação sobre a cadeia de valor para atuação em tempo real (realtime);
- Diversificação das fontes de informação para maior robustez do conhecimento;
- Disponibilização matricial da informação para que todos possam acessá-la e atuar com o mesmo nível de conhecimento;
- Capacitação permanente com base na informação atualizada.Plataformas / Ecossistema;
- Construção de ecossistemas integrados de gestão para melhor entrega e diferenciação no mercado;
- Adoção de sistemas que se ajustem ao contexto dos clientes e demais players;
- Integração das funções com transição para um sistema empresarial com o mínimo de silos – de fora para dentro;
- Plataformas capazes de incorporar pessoas e tecnologias, automatizando os processos;
- Centralização no digital como eixo de velocidade.
Com tudo isto só me resta desejar boa viagem nesta jornada para o futuro. Enjoy the ride.